Mal a mocidade lhe sorriu, ela viu-se assim: confinada a um quartinho sem janelas. 
Todos os dias ele lhe trazia frutas, leite e mel. E ainda dava-lhe afago, mordia-lhe a maçã do rosto e afogava-se por entre suas pernas. Um mundo perfeito, ela pensava; certa de ser amada.
Assim foi até que um belo dia ele lhe trouxe um espelho.
No começo, olhou o objeto ressabiada, com medo de ver-se outra vez. Aos poucos encorajou-se: eram verdes os seus olhos, já nem lembrava. 
Agora, ela passava todo o seu tempo numa busca incansável de reflexão. Vendo-se, revendo-se e espelhando: as paredes, os móveis, os cantos e os vazios. 
Então, ele passou a levar-lhe frutas, leite, mel e espelhos; certo de ser amado. 
E ela reverberando o interior aqui, refletindo novos ângulos acolá, desvelando mais e mais os seus espaços.
Ampliando...
E assim foi até um dia que, em paralelo, ela abriu-se em asas e alcançou o infinito.
Certa de amar-se.
 
 
Linda! Que bom ver-se e amar-se! Beijo e carinho, Du
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